A Universidade Católica de Pernambuco, por meio o Núcleo de Apoio aos Discentes (Nadi), realizou na noite desta quinta-feira, dia 27, no anfiteatro do bloco G4, a palestra Audiodescrição na Licenciatura, com a professora Liliana Tavares. A palestrante é audiodescritora, doutoranda em Comunicação pela UFPE e gestora da Com Acessibilidade Comunicacional.
A palestra foi uma iniciativa do aluno cego Cícero Carlos, que cursa Pedagogia. Cícero procurou o Nadi manifestando seu interesse no assunto, e o Núcleo promoveu a realização do encontro. A palestrante ressaltou a iniciativa dizendo que isso é muito interessante porque mostra que a universidade ouve seus alunos.
Liliana disse que a Unicap vem, há um tempo, apoiando ela com o trabalho. Ela é proponente de um projeto do Funcultura, chamado “Ver Ouvindo”, que acontece, principalmente, por causa do apoio da universidade. O projeto é um festival de cinema, de filmes com audiodescrição, realizado anualmente, desde 2014. O apoio da Unicap se dá no empréstimo dos estúdios de Rádio e TV para gravar as audiodescrições e interpretações de libras e por meio dos alunos de Jornalismo, Publicidade e Fotografia que participam como voluntários.
Mas, o que é audiodescrição? Segundo a palestrante, é a tradução de imagem para pessoas cegas. Mas não é só isso, ela amplia o universo, ela é conhecimento, a partir do momento que nossa cultura é toda baseada na cultura visual. A pessoa cega tem o direito de saber onde ela está e o que está se passando ao redor.
“O que o professor pode fazer para tornar a aula mais acessível para um aluno cego ou com baixa visão, para uma pessoa com deficiência visual? O que a instituição pode fazer para tornar os ambientes mais acessíveis?” Questionou a palestrante.
A professora Liliana apresentou a técnica utilizada nos trabalhos. “Geralmente existe uma frase inicial que a gente chama de hiperonímia, ela dá a visão geral de uma foto, por exemplo. Depois a gente dá mais detalhes. Então, a pessoa cega se não quiser ouvir o resto, ela simplesmente não ouve, parando a gravação.”
Após uma breve apresentação da técnica, foi realizado, com os presentes que lotaram o anfiteatro, um exercício de descrever uns aos outros e tirarem suas dúvidas. Em seguida, foi apresentada uma fotografia aérea do bairro de São José, no Recife, feita pela coordenadora do curso de Fotografia da Católica, Renata Victor. A audiodescrição da foto foi feita pela professora Liliana Tavares e pelo funcionário da Assessoria de Comunicação da Unicap e consultor em audiodescrição, Milton Carvalho.
“Todo trabalho de audiodescrição tem que ter uma pessoa com deficiência visual envolvida e, não pode ser qualquer pessoa cega, ela tem que ser capacitada na técnica, como é o caso do Milton Carvalho”, destacou a professora.
A apresentação da foto gerou uma discussão interessante. Alguns participantes questionaram que a descrição foi muito detalhada e que eles não viam tudo isso na foto. Contudo, Cicero Carlos, aluno cego, que propôs a realização da palestra disse: “Não é muita informação não. A gente precisa dessas informações porque a gente não está vendo nada. Muita informação não, porque você não olha todos os detalhes, mas eles estão lá, se você quiser olhar, vai vê-los.”
Foi exibido, também, um curta produzido pela aluna de Publicidade e Propaganda, Bruna Cortez, com a coordenadora do curso, Janaína Calazans. O vídeo foi fruto, desse trabalho, e participou do Festival Ver Ouvindo.
Outro assunto abordado na palestra, foi a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) sancionada pela Presidente Dilma Rousseff, em 6 de julho de 2015, após longa tramitação de 12 anos no Congresso Nacional. A Lei estabelece, em seu artigo 2º, a definição de pessoa com deficiência: “Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Foi sugerido aos participantes o texto “Lei Brasileira de Inclusão e o ‘novo’ conceito de deficiência: será que agora vai ‘pegar’?, da professora do curso de Direito da Católica, Carolina Valença Ferraz, e o professor Glauber Salomão Leite. Acesse o link, ao lado, e leia o texto na íntegra: Leia mais.
Em entrevista à reportagem do Boletim Unicap, a palestrante Liliana Tavares falou sobre sua palestra na Católica. “O fundamental que aconteceu aqui, nesta noite, foram as dúvidas apresentadas pelos participantes, que foram respondidas pelo aluno cego, Cícero Carlos. Isso foi maravilhoso, porque enquanto havia barreiras de compreensão, algumas dúvidas das pessoas que não conheciam as técnicas, Cícero, que estava sentado atrás do anfiteatro, dizia que essas informações preenchem o seu vazio. ‘Com a audiodescrição começo a entender as coisas por completo’ ele disse a plateia”, ressaltou Liliana.
fonte: http://www.unicap.br